segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

“NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM”

Considerações sobre a crônica de Juliana Cunha e do artigo de Geovane Barone.

Por Rodrigo Ribeiro

Justifico esse artigo devido a minha leitura do artigo de Juliana Cunha “Capitu não presta (eu já sabia Bial)”, colega baiana e ex-companheira de militância do movimento estudantil secundarista( há alguns anos atrás) no qual tenho um profundo respeito. E também a leitura do artigo do camarada Geovane Barone “Capitu, o quadrante e a busca de uma nova linguagem para TV brasileira”, meu grande amigo e camarada que sempre tive grandes conversas acerca da cultura e arte contemporânea.
Primeiro gostaria de justificar o título, que parece meio bíblico, mas que foi de inspiração de uma frase de Onélio Cardozo, contista cubano, que diz: “O ser humano tem duas grandes fomes: a de pão e a de beleza; a primeira é saciável, a segunda infindável.”
Gostaria de colocar que discordo da visão de Juliana Cunha sobre a minissérie e compactuo com o artigo de Geovane Barone (mas acho que vai além da discussão sobre a “estética”) e de uma forma modesta venho aqui colocar as minhas análises sobre a minissérie e mais do que isso, transportar essa análise sobre a cultura pós-moderna nas artes.Sem é claro, colocar a “pós-modernidade” enquanto concepção ideológica ou como termo depreciativo, mas como o desmembramento da modernidade enquanto flexibilização e compressão do espaço-tempo das relações em diversos segmentos da sociedade contemporânea, o destaque aqui vai para a arte.
A lógica da frase “nem só de pão vive o homem” poderia ser a mesma de “nem só do tradicional vivem as artes” ou então, “nem só da ortodoxia vive a teoria”. Há uma peça de teatro, apresentada na Hungria ainda durante o período socialista, que narra à história de um casal que briga muito. De repente, o marido rompe o diálogo com a esposa e diz que não agüenta mais, porque tem muito trabalho no partido, no Estado. A mulher, então, vai à praça da cidade e começa a dialogar com a estátua de Marx; e fica muito brava, porque Marx não apresenta respostas para ela. É como se ela dissesse: “Não encontrei no marxismo determinadas respostas para questões minhas muito sérias”. São as questões de relações de gênero, sexualidade, religiosidade, cultura, artes, entre outras.
Os relatos das produções pós-modernas tomam duas formas, identificadas, respectivamente, com as hipóteses “transgressiva” e “incorporativa”. A primeira forma visa identificar e promover possibilidades progressistas nos textos, nas peças e na dramaturgia. Essa abordagem é demonstrada por John Wyver em seu artigo “Television and Postmodernism”.
A ascendência inquestionável da imagem sobre a palavra é desafiada quando imagens e argumentos são usados uns contra os outros para abrir questões. As “colagens” altamente estruturadas centradas em torno de um tema ou objeto, cuja mistura de formas e estratégias é considerada por Wyver uma resistência a forma dominante, no qual o acolhimento de mundos de fantasia não-realistas equivale a “uma plena libertação do significante”. >>>>>>
O que caracteriza uma produção pós-moderna é a sua recusa em assumir uma posição clara diante de suas imagens, seu hábito de margear a linha da não-comunicação de um significado claro. Nos vídeos pós-modernos, ao contrário de em outros tipos específicos, cada elemento de um texto é penetrada pelo pastiche; a significação, por imagens que não se alinham numa cadeia coerente; o texto é achatado, criando-se com isso um efeito bidimensional e a recusa de uma posição clara para o espectador no âmbito do mundo fílmico.
A consideração mais ampla das alegações radicais das produções pós-modernas é sem dúvida a de Fredric Jameson. Para Jameson, a TV representa, na sua forma, desafios, não somente à hegemonia dos modelos estéticos modernistas como também ao domínio contemporâneo da linguagem e dos instrumentos conceituais associados com as ciências lingüísticas e semióticas. No centro do argumento de Jameson, está a insistência na assimilação absoluta do sujeito espectador à estrutura mecânica do meio da produção. Com isso ele quer dizer que, enquanto outros meios representacionais como os romances ou os filmes estão comprometidos a produzir os efeitos do “tempo real”, embora na verdade, o distorçam (ao condensarem, recombinarem, estenderem, variarem o foco etc.), a produção, ou ao menos, a produção de vanguarda não-narrativa, aprisiona o espectador no tempo da série, o que no final não é senão o “tempo real” da própria produção. Na explicação de Jameson, a produção de vanguarda é considerada a forma essencial do vídeo, sendo a televisão comercial, que imita claramente o filme nos efeitos narrativos. Ele se espanta, portanto, não com o fato de a TV comercial imitar outros meios visuais temporais, mas com a maneira de como essa TV consegue produzir a impressão de tempo fictício a partir do que ele acredita ser “as linguagens rigorosamente não-fictícias do vídeo” (Postmodernism and the Video-Text”). Mas na verdade não há razão para supor que as práticas particulares ou estruturas representacionais características de (algumas formas de) videoarte experimental sejam mais intrínsecas ao meio que do que as práticas ou estruturas que a produção partilha com o filme ou mesmo com os romances.
A partir desse esboço mais sociológico faço a seguinte colocação: gostei da minissérie (Capitu), pois representa algo novo na dramaturgia.
No começo do ano (2008), assisti uma peça no teatro do “OI FUTURO”(perto do terreno da UNE) chamada "What´s Wrong with the World?" da série Play on Earth. A mesma, era uma peça que passava ao mesmo tempo no Rio e em Londres, a peça era ligada pela internet e por câmeras que iam além do palco italiano tradicional do teatro, mostrava pelo audiovisual o que a platéia não poderia ver no palco propriamente dito, logo é uma mistura de atribuições do teatro com um filme ( mal comparando é claro), mas se formos na parte clássica não poderemos defini-la como um teatro propriamente dito.
Num sentido diferente, mas com o mesmo viés de concepção de linguagem e estrutura dramática, foi a minissérie Capitu. É claro, ela não foi feita para um público de teatro, mas para a TV. Entretanto, ela teve um contato direto com o público desde a sua divulgação ( a partir dos DVD´s que eram deixados em diversos lugares diferentes, no qual a pessoa achava e se sentia parte da representação do programa, como se fosse um chamado. Linguagem inovadora de Marketing. As pessoas não iriam ligar a TV e receber uma nova programação no meio da cara, mas uma preparação desde o seu primeiro contato na rua até a sua ida para a casa ligar a TV. E mais, podendo colocar a sua opinião num blog, falando diretamente com a produção do programa, inclusive o blog está funcionando até hoje! Isso é ou não é ter contato direto com o público? Independente de ser teatro ou audiovisual).
Há uma tendência no mercado flexível e isso transporta muito facilmente para as artes, que é o consumidor "moldar" o seu próprio produto e não recebê-lo de forma de "estoque" como antigamente. Um exemplo disso é o novo “BBB”, será colocada uma bolha de vidro no Rio e/ou em São Paulo, onde diversos candidatos estarão presos durante uma semana no meio da rua para as pessoas passarem e escolherem quem serão eliminados e quem poderá entrar na casa. Parece que não, mas essa estratégia é incrivelmente brilhante (ainda mais para um programa chulo que nem esse), na medida em que diminui a compressão do espaço e do tempo com o telespectador, agora o mesmo (telespectador) faz parte e tem um contato direto com o programa de TV. Das meras ligações telefônicas foi transpassado a cena para a rua, para a rotina e o cotidiano das pessoas, você agora não tem mais o contato com a TV só quando a liga em casa, mas também na sua vida contemporânea, quando você mal espera da de cara com ela no meio da rua, pode ser num mero achado de um DVD ou então com uma bolha de vidro com os participantes do BBB na esquina do seu trabalho.
Voltando somente para a Capitu, acho que desde a forma de divulgação até o final da minissérie foi algo inovador. Quando a pessoa achava o DVD, eu acho que o que os produtores queriam que fossem identificados era a forma do teatro inserido na TV, mas somado com uma estrutura musical extremamente contemporânea, adaptando assim, um livro clássico de Machado de Assis (Dom Casmurro) que possui uma linguagem não contemporânea, mas o que importa não é passar a estrutura da narrativa machadiana, mas sim, as suas idéias.
Não é a toa que foi uma minissérie de 5 capítulos, onde “Dom Casmurro” poderia render uma novela. Mas a idéia era essa mesma: ser rápida, adaptável, emotiva e lançar as principais idéias do livro. Se fosse uma novela ou uma minissérie maior do que isso, talvez não desse tanta audiência, pois seria cansativa.
Sobre a estrutura estética e de linguagem:
1- O uso de letreiros para identificar as principais idéias da obra.
2- A estrutura musical contemporânea.
3- O bento já velho contando a própria narrativa, ou seja, uma conversa informal com o telespectador, a partir do seu olhar direto para a câmera e a sua passagem pelas cenas, representando as suas memórias.
4- A representação simbólica das cenas:
· O trem no começo da minissérie e no fechamento. É claro que não existia trem na época, existia bonde. Mas o trem mostra a onde foi passada grande parte da estória, no subúrbio, afinal a casa de bento (se eu não me engano, já faz muito tempo que li o livro) era no Engenho Novo. E hoje a maior representação do subúrbio é o trem. Esta aí mais uma transposição de uma narrativa clássica para a contemporaneidade.
· O uso das cortinas (o fechamento e abertura) para os novos tópicos que entravam na minissérie, representando a saída e a entrada de uma nova parte do livro.
· O "apagar das luzes" como desfecho de alguma cena.
· A introdução de imagens da época e imagens gravadas fora do palco. A necessidade de quebrar com a longa linguagem do teatro e tirar um pouco a visibilidade do palco enquanto transposição das cenas. Afinal estamos num viés pós-moderno, a narrativa numa única estrutura de linguagem seria cansativo para o público.
· A mistura de representação subjetiva e objetiva. Uma das cenas mais marcantes da minissérie foi a morte de Escobar. O ator representa o seu afogamento no palco do teatro, no qual a água é representada por um plástico azul, mas ao mesmo tempo foi introduzido cenas de água real, ondas no quebra mar, batendo na pedra e etc. Mas os principais desfechos teriam que ser feito na maneira clássica, ou seja, no palco.
5- O final Também foi marcante, com o Bento já velho, fazendo um desfecho no qual já tinha morrido Capitu na Europa e depois seu filho com a volta do mesmo para o Brasil. Bento termina olhando para a câmera (conversa direta com o público) e diz "não tenha ciúmes da sua mulher", logo depois, começa a tocar as músicas e mostrar cenas já passadas como lembranças e finaliza com uma cena contemporânea que é o trem indo embora.
Seguindo as linhas do pensamento de Jameson, ele sugere que a teoria da TV deve aprender a acomodar-se de algum modo à intensa variabilidade da mídia eletrônica contemporânea e às maneiras, e até lugares, em que é vivida. Essa variabilidade parece frustrar toda tentativa crítica de falar normativamente sobre qualquer “texto” da TV ou sobre seu espectador postulado.
O texto é localizado, não só intertextualmente como numa gama de aparatos, definidos tecnologicamente, mas também por outras relações e atividades sociais. É raro que a pessoa apenas ouça o rádio, assista à TV ou vá ao cinema – ela está estudando, tendo um encontro, indo de carro a algum lugar, participando de uma festa etc. Não apenas o “mesmo” texto é diferente em contextos distintos, como também seus múltiplos modos de apresentação estão numa complexa relação interativa.
Portanto, discordo profundamente da crônica de Juliana Cunha e para a mesma digo que “nem só de pão vive o homem” assim como “nem só de clássicos vive a literatura” e “nem só do tradicional vive a dramaturgia”. Acho que essa resistência sobre a minissérie Capitu é equivocada e a mesma (resistência) é devida uma lógica ortodoxa que está incrustada na subjetividade “revolucionária” há muito tempo desde os nossos “antepassados” e que é preciso ser rompida. Tenho a ligeira impressão que talvez se a minissérie tivesse sido passada pela TV Brasil e não pela Rede Globo, provavelmente a resistência não seria tanta, até porque não teria “Pedro Bial” para criticar, mesmo com esse sujeito não ter influenciado em nada na produção da minissérie. Parabenizo aqui o artigo do Geovane Barone, no qual consiste numa análise concisa e extremamente evoluída, demonstrando que nem tudo que é novo e adaptável representa uma depreciação dos nossos valores sobre arte, cultura e sociedade. Queria deixar claro que não sou especialista em arte, literatura ou dramaturgia e que o artigo expressa visões pessoais de um mero espectador das produções contemporâneas e de um estudante que tem gosto pelo objeto de análise da sociedade pós-moderna.

Rodrigo Ribeiro – estudante de Ciências Sociais da UFF

domingo, 21 de dezembro de 2008

Juventude e Trabalho: continuidades, desafios e rupturas.

Esse artigo é fruto das reflexões desenvolvidas no estágio docente do curso de Prática de Ensino da Faculdade de Educação da UFRJ, onde, observo 3 turmas[1] do terceiro ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Souza Aguiar[2] e, de um levantamento sobre o papel da juventude no processo do trabalho. Para essa segunda questão considero a centralidade do elemento trabalho como categoria no imaginário juvenil[3], e os desafios colocados hoje tanto para os jovens quanto para a sociedade brasileira como um todo, no sentido de promoção e implementação de Políticas Públicas para a Juventude (PPJ), considerando centralmente a esfera do primeiro emprego.
Existem ainda muitas divergências em relação a que faixa etária compreende o jovem no Brasil. Segundo o Conselho Nacional de Juventude, referência a qual desenvolvo esse artigo, jovens são os cidadãos e cidadãs entre os 15 e os 29 anos, divididos em diferentes faixas: adolescentes-jovens (entre 15 e 17 anos), os jovens-jovens (entre 18 e 24 anos) e os jovens-adultos (entre 25 e 29 anos). Esse grupo compreende cerca de 50, 5 milhões de pessoas, ou seja, 40% da população brasileira.

A Juventude e o Trabalho no Brasil

No Brasil a questão também não se deu de forma diferente. Por mais que nosso processo de industrialização só tenha tido força substantiva a partir do Governo Vargas, já no final do século XIX, o trabalho do menor era explorado tanto no campo quanto na fábrica. O questionamento aqui, principalmente por parte dos trabalhadores imigrantes e de perfil anarquista, também refletiu na primeira vitória legal dos trabalhadores: a aprovação em 1891 da primeira lei trabalhista do país, referente à regulamentação do trabalho do menor e, posteriormente o Código de Trabalho do Menor em 1927 (MORAES FILHO, 1978). No entanto, o principal problema colocado e possível de ser visualizado hoje era que a categoria “juventude” não estava clara o bastante no cenário nacional onde, na maioria das vezes, as leis abrangiam essa parcela da sociedade de forma insuficiente. Só a partir de 1990, quando se aprova Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, essa categorização passa a ser melhor definida, mas, ainda assim, de forma insuficiente. O ECA considera criança a pessoa até doze anos de idade incompletos e, adolescente, aquela entre doze e dezoito anos de idade, visando legislar e garantir proteção a essa parcela. Esse importante instrumento assegura que “é proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos” e que “ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários”.
A iniciativa foi fundamental, porém, os jovens de 18 à 29 (categorias jovem-jovem e jovem-adulto) continuavam à margem da classificação e, por isso, das políticas governamentais específicas. No entanto é importante verificar que a preocupação com o trabalho sempre pareceu presente, desde o início de nosso processo de industrialização e que, como destacam os jovens brasileiros, estreitamente ligados à idéia de cidadania.
Esses elementos mostram também que, desde o início de nossa formação industrial, o jovem sofria com as piores condições de trabalho e os piores salários, tendo ainda que aliar essa demanda tanto objetiva, por conta da necessidade do salário, quanto subjetiva, pela pressão social, à qualificação educacional. Em relação a esse aspecto vale à pena situar o debate travado entre os principais especialistas da área de juventude na atualidade: retardar a entrada no mercado de trabalho, para elevar a taxa de escolaridade ou; facilitar o ingresso do jovem no mercado, através de ofertas de curso de formação profissional e estímulos ao primeiro emprego. A questão fundamental que é reflexo desse impasse está relacionada a inexistência, até os tempos atuais, de uma legislação específica para o trabalho juvenil, que dê conta de uma questão já definida pelos próprios jovens como fundamental.

A importância do trabalho para o jovem brasileiro

Alguns dados merecem destaque quando tratamos da relevância dessa categoria trabalho para a juventude em um cenário de questionamento, por parte do “senso comum”, da responsabilidade juvenil com o “seu futuro”. Percebe-se uma espécie de consenso que destaca a irresponsabilidade e a incapacidade do jovem dessa geração atual (que desfruta de um cenário de democracia, burguesa, interrupta), devido ao estímulo de elementos informativos diversos que têm sido massificados como o audio-visual e a internet, em detrimento da “leitura tradicional”, da pesquisa em enciclopédias e da busca por bibliotecas. Toda essa mudança de perfil parece identificar que o jovem atual tem menos responsabilidade e pensa menos em seu futuro à longo prazo. Essa conclusão, no entanto, pode ser questionada se considerarmos que a sociedade não é um elemento estático e anti-dialético, mas passível de constantes transformações e mais ainda, que para a juventude brasileira o trabalho se encontra estreitamente relacionado à perspectiva cidadã. A idéia de que é principalmente através do trabalho que se dá a forma mais concreta de assegurar um lugar na sociedade está especificada na pesquisa Perfil da Juventude Brasileira (2003) onde esse elemento é visto como principal direito necessário e o mais importante da cidadania.

A realidade atual

Em contra partida, as perspectivas de emprego para a juventude não são as melhores. Quase a metade dos desempregados do país são jovens onde o desemprego juvenil é três vezes maior do que o conjunto da população (POCHMANN, 2000). O principal problema destacado é a dificuldade do Primeiro Emprego já que a barreira central colocada é a necessidade de “experiência de trabalho”. Os estágios aparecem então como alternativa, porém as condições as quais os jovens são submetidos são péssimas. Muitas vezes a idéia de “estágio” vem mais como arcabouço legal justificável para que se pague menos e explore mais o trabalho do jovem. Segundo PNAD de 2006, em média, os trabalhadores jovens ganham menos da metade do que ganham os adultos e 63% não tem carteira profissional assinada (Instituto Cidadania, 2003).
Algumas iniciativas no âmbito executivo tem sido feitas com propósitos diversos. Dentre esses se destaca o programa Bolsa-Trabalho, da prefeitura de São Paulo na gestão 2001-2004 e o Jovem Empreendedor, do Ministério do Trabalho e Emprego aliado ao SEBRAE (Serviço de Apoio às pequenas e médias empresas). O primeiro tem como objetivo fundamental elevar a escolaridade do jovem e postergar seu ingresso no mercado de trabalho. O segundo está inserido no Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego e oferece apoio a empreendimentos juvenis por meio de financiamentos para jovens individualmente, micros e pequenas empresas. À grosso modo, é possível considerar que os projetos divergem na sua essência já que o primeiro valoriza a permanência na escola e o segundo o empreendedorismo juvenil, a inserção direta no mercado de trabalho. No entanto precisamos encarar a realidade de acordo com a diversidade colocada no cenário nacional onde as realidades não são homogenias, principalmente, se considerarmos a diferença entre as classes-sociais.
Segundo Márcio Pochmann (2005), idealizador do projeto Bolsa-Trabalho de São Paulo, em países desenvolvidos, os jovens demoram muito mais para se inserirem no mercado. Na Alemanha, por exemplo, de cada 10 jovens de 15 a 24 anos de idade apenas um está no mercado e nove estão estudando. Já no Brasil, de cada 10 jovens desta mesma faixa etária, de 6 a 7 estão trabalhando. Esses jovens que entram mais cedo no mercado estão despreparados e são hegemonicamente os filhos das classes populares. A média de entrada no mercado dos filhos das classes mais abastadas é de 25 anos, ou seja, com esses jovens já tendo concluído o Ensino Superior (POCHMANN, 2008). Percebemos então um forte “corte de classe” quando vamos tratar das políticas públicas no Brasil. Para os mais pobres o grau de dificuldade aumenta substancialmente tanto em relação ao acesso ao mercado quanto à permanência na escola. Para esses, as políticas ainda pouco abrangentes de retardamento da entrada no mercado que, normalmente, garantem no máximo a remuneração de meio salário mínimo, não são suficientes para o complemento da renda familiar. Além disso, os jovens já definiram o trabalho como direito central de sua vida.

Considerações Finais

É possível concluir que nesse cenário de divergências conceituais e metodológicas no âmbito das políticas públicas, tanto governo quanto sociedade não acompanharam o crescimento dessa principal parcela demográfica brasileira da atualidade. Avalia-se que esse grupo nunca foi tão numeroso no Brasil e, desde que as tendências demográficas sejam mantidas, também nunca mais serão. A oferta de bens e serviços para o jovem, o entendimento dessa categoria e o impasse em relação às políticas públicas são os principais desafios colocados.
Não podemos fechar os olhos para a realidade que está posta: o jovem mais pobre é o que mais sofre em relação ao acesso ao mercado de trabalho e a permanência na escola. O governo, por mais que desenvolva reflexões e políticas de extrema importância, com destaque especial para a realização da 1 Conferência Nacional de Juventude, está ainda muito longe de dar conta desses problemas que ainda marcam a estrutura de nossa sociedade. Sem dúvida nenhuma é necessário trabalhar para romper com essa realidade degradante para a juventude mais pobre de nosso país, no entanto, o governo precisa se responsabilizar por esses jovens que já se encontram no sub-emprego, ou em busca do primeiro emprego que, contraditoriamente, obriga a “necessita de experiência anterior”. Nesse sentido, apenas postergar a entrada do jovem no mercado de trabalho não é a saída da questão a qual estamos inseridos. É preciso interferir na política de estágios desenvolvida, redimensionar a oferta de empregos e garantir um Brasil cada vez mais justo, para todas as parcelas da juventude.

Pensando na realidade carioca, o projeto que considere a questão do trabalho para a juventude deve também ser refletido considerando ambas as políticas públicas. É preciso desenvolver um projeto que tanto postergue a entrada do jovem no mercado de trabalho quanto crie mecanismos para ajudar a inserção do jovem nesse mercado. Devemos preparar melhor principalmente os jovens de baixa renda, que são os que entram no mercado mais cedo, como também não fechar os olhos para a realidade colocada na relação juventude-trabalho. Sendo essa, atualmente, uma das principais categorias colocadas no imaginário juvenil.

A situação da economia do estado do Rio de Janeiro, de acordo com os novos dados nacionais do IBGE baseados em uma reformulação da metodologia de pesquisas, voltou a ser a mesma de 1995: continuamos a segunda maior economia do país, só superada pela de São Paulo, mas estamos estagnados com a participação de 11,5% no PIB nacional. A recuperação que havia sido anunciada pela antiga metodologia, com um crescimento de cerca de 1% na renda nacional, não se confirmou nos dados de 2000 a 2005 revelados agora. Segundo o economista André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), é importante lembrar que esses novos dados vão até 2005. "Há uma quantidade considerável de evidências empíricas de que a situação no Rio de Janeiro, particularmente na região metropolitana, deu uma melhorada bastante importante a partir de 2005".

No que se refere à situação do emprego formal e informal para a população jovem entre 18 e 24 anos, verifica-se que a região metropolitana do Rio apresenta, em outubro de 2007, taxa de desemprego de 16,3%. Apesar de essa taxa não ser, na média, maior do que as existentes para as Regiões Metropolitanas de São Paulo, de 19,6%; Belo Horizonte, de 12,9%; Porto Alegre, de 12,8%; Salvador, de 26,1%; e Recife, de 27,2%, ela é extremamente elevada, ressalta Osório. Mas Mauro Osório vê também sinais de avanços na economia: "Em período recente, alguns indicadores começam a apontar a possibilidade de reversão dessa longa trajetória de crise". Ele cita a construção civil que, de 2005 para 2006, apresenta um crescimento do emprego em torno de 27,1%, contra um crescimento no Brasil próximo de 11,9%, em decorrência do crescimento dos investimentos imobiliários na cidade do Rio de Janeiro e dos gastos realizados para a realização do Pan-americano em 2007.Além disso, lembra Mauro Osório, aponta-se para o futuro próximo uma série de investimentos sociais em comunidades carentes, na cidade do Rio de Janeiro e na sua periferia, e a realização de uma série de macroprojetos como os do pólo petroquímico em Itaboraí/São Gonçalo, o do Arco-Rodoviário no Porto de Sepetiba, e o da empresa MMX de um complexo logístico e industrial na região de São João da Barra. São boas notícias que podem confirmar as evidências de que fala André Urani, do Iets, de um forte crescimento do estado a partir de 2005.

[1] As turmas referidas são: 3001, 3003 e 3004.
[2] Escola de tradição da cidade do Rio de Janeiro e que, nesse ano, completa seu primeiro centenário.
[3] Pesquisa Perfil da Juventude Brasileira realizada em 2003, Instituto Cidadania.
Referência bibliográfica:



ANTUNES, Ricardo. O que é sindicalismo. São Paulo, 1980

ABRAMOVAY, Miriam e CASTRO, Mary. Juventude, juventudes: o que une e o que separa. Brasília: UNESCO, 2006.

DOCUMENTO BASE 1 CONFERÊNCIA NACIONAL DE JUVENTUDE: Levante sua bandeira, 2008

GOMES, Ângela de Castro. A Invenção do Trabalhismo. Rio de Janeiro: Ed. Relume-Dumará, 1994.

MARX, Karl. O Capital. Vol. 1/1. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1971

MORAES FILHO, Evaristo. O Problema do Sindicato Único no Brasil – seus fundamentos sociológicos. São Paulo: Ed. Alfa-Ômega, 1978

NOVAES, Regina. O Projovem no cenário da Política Nacional de Juventude. Relatório de Atividades: 2006.Brasília: Secretaria Nacional de Juventude 2007

PESQUISA Perfil da Juventude Brasileira. Instituto Cidadania 2003

POCHMANN, Márcio (Org.). Desenvolvimento, trabalho e solidariedade: novos
caminhos para a inclusão social. São Paulo: Cortez/Fundação Perseu Abramo, 2002.

____________________. A Batalha do Primeiro Emprego: as perspectivas e a situação do jovem no mercado de trabalho brasileiro. São Paulo: Brasil 2002

____________________. Entrevista [www.mundojovem.com.br/entrevista-05-2005.php], 2005